Imagine a seguinte mistura: a força power metal de “Imaginations from the Other Side” + a pompa épica de “Nightfall in Middle-Earth” + o respiro progressivo de “A Night at the Opera” + a modernidade despreocupada de “A Twist in the Myth”. O resultado? Simples: “At The Edge of Time”, mais recente disco dos bardos germânicos do Blind Guardian e, inegavelmente, o melhor lançamento de sua discografia desde “Nightfall”. Estamos falando, resumidamente, de um disco que busca referências no passado, o que deve agradar a parcela mais purista de seus seguidores, mas sem se tornar saudosista de maneira pedante.
A abertura da bolacha vem de maneira mais do que grandiosa, com “Sacred World”, uma espécie de versão anabolizada com orquestras da canção que a banda compôs para o videogame de fantasia “Sacred 2: Fallen Angel”. Por sinal, vale lembrar que este disco é o primeiro no qual o quarteto germânico trabalha com uma orquestra de verdade – no caso, a FILMharmonic Orchestra de Praga, especializada em trilhas sonoras. Com seus mais de nove minutos, “Sacred World” dá de lavada na igualmente imensa “And Then There Was Silence” (do mediano “A Night at the Opera”), em especial no que diz respeito ao caráter épico. E disso o Blind Guardian entende melhor do que ninguém.
O título de melhor refrão, aquele com mais potencial para levantar o público nas apresentações ao vivo, fica para o bombástica “Valkyries” – porque, afinal de contas, é impossível resistir a cantar junto quando Hansi e sua trupe entoam, com inspiração nórdica, que “Valkyries will guide us home”. Se você procura aquelas baladas do tipo “Bard’s Song” e “Skalds and Shadows”, que a banda faz tão bem e lhes dão merecidamente o título de “bardos”, em “At The Edge of Time” você vai encontrar duas. Com uma inspiração celta descarada, “Curse My Name” é do tipo música deliciosa, quase ambiente, que faz entrar no clima imediatamente sem que se perceba. E é a toada praticamente acústica que dá a cara para “War of Thrones”, inspirada no livro “A Guerra dos Tronos”, primeiro volume de “As Crônicas de Gelo e Fogo”, de George R. R. Martin, lançado recentemente no Brasil.
As referências literárias continuam na ótima “Control the Divine”, uma faixa rápida e acelerada na melhor tradição do Blind Guardian clássico – e que faz referência direta ao poema medieval “Paraíso Perdido”, obra de John Milton sobre a queda do anjo Lúcifer do céu ao inferno. E de volta às obras de Michael Moorcock, Hansi Kürsch abre as portas para o Multiverso na igualmente empolgante e veloz “Tanelorn”, cujo tema já tinha sido abordado em “The Quest for Tanelorn”, do disco “Somewhere Far Beyond”.
Aliás, por falar em Hansi, há de se ressaltar novamente que a performance do vocalista melhora a cada disco – e olha que o grupo lança um a cada quatro anos. Desta vez, diferente do que se pôde ouvir em “A Twist in the Myth”, ele canta não só de maneira intensa e visceral, mas também interpreta muito mais. É possível ouvi-lo, numa mesma música, sussurrando de maneira doce e meiga e, na seqüência, urrando com violência de maneira rasgada. Hansi ousa mais, evita ficar na sua zona de conforto. E o resultado é perfeito.
A constatação final sobre “At the Edge of Time” pode parecer óbvia, mas precisa ser escrita: se a banda quiser continuar demorando estes quatro anos de intervalo entre um disco de inéditas e o próximo, tudo bem. Se eles continuarem nos entregando bolachas cheias de classe, bom gosto e elegância metálica, a gente não se incomoda em esperar. Não mesmo.
Line-up:
Hansi Kürsch – Vocal
André Olbrich – Guitarra
Marcus Siepen – Guitarra
Frederik Ehmke – Bateria
Tracklist:
1) Sacred Worlds
2) Tanelorn (Into the Void)
3) Road of No Release
4) Ride into Obsession
5) Curse My Name
6) Valkyries
7) Control the Divine
8) War of the Thrones
9) A Voice in the Dark
10) Wheel of Time
Follow The Guardians!
Feliz 2011 a todos que acompanham este blog, e muito obrigado pela preferência! ;)